quinta-feira, 2 de abril de 2009

Todo dia é um fim de mundo


[crônica]
A máquina do "fim do mundo" apresentou os primeiros problemas na manhã do dia 23 de setembro, após funcionar por duas semanas. O LHC (Large Hadron Collider), ou Grande Colisor de Hádrons, ou melhor, a maior construção já feita pelo homem para tentar reproduzir a criação do universo, através do Big Bang, custou nada mais, nada menos que 6 bilhões de dólares e está enterrada entre as fronteiras da França e Suíça ocupando um raio de 27 km. Os ímãs que impulsionam os prótons no túnel do LHC funcionam resfriados por hélio líquido, a -271,3ºC, como se fosse uma geladeira gigante mais fria do que o espaço sideral, o problema é que os cientistas encontraram vazamento desse gás na máquina, agora ela só voltará a funcionar no segundo trimestre de 2009.

Ao redor do globo terrestre cientistas, leigos e religiosos especulam que o fim do mundo será causado graças ao funcionamento do LHC, afirmando que os pequenos buracos negros abertos nos experimentos podem aumentar e devorar o planeta. A verdade, segundo os cientistas envolvidos no projeto, é que isso não vai ocorrer e ouvi um bêbado com queda pra sabido dizer que se isso acontecesse ninguém perceberia, seria muito rápido. Quem sabe estamos realmente próximos do fim do mundo? Primeiro os ataques as torres gêmeas nos Estados Unidos, em 2001, depois o tsunami, o aquecimento global, agora um experimento que "pode" gerar o fim dos tempos. Talvez a previsão de Nostradamus não esteja errada, sobre o apocalipse no século XXI, afinal, se escreve certo por linhas tortas.


Fico pensando, o que iria fazer se fosse anunciado o fim do mundo, graças ao acelerador de partículas. Se bem, que morreríamos, sem saber, já que provavelmente não avisariam, assim como é especulado que a NASA possui extraterrestres ou que existe vida em outras terras. Eu faria da minha vida um filme, talvez com pitadas lisérgicas do Mágico de Oz com trilha sonora de Richard Ashcroft cantando com Lennon e McCartney, Lucy in The Sky with Diamonds, tornando-a eterna como uma fuga de Pink Floyd. Prazer e delírio em agonia. Traçaria o Plano Perfeito de um assalto a banco e sairia ileso como protagonista de Prenda-me se for capaz, acabando antes do fim.

Penso que ia sair por aí, rodando sem destino, curtindo o que nunca tive tempo ou, simplesmente, nunca quis parar para observar. É isso, eu sentiria mais o que vale a pena, quando se está no final e a humanidade passa a crer em Deus com mais afinco. Me vejo no fim como um Ivan Ilitch, morreria antes do fim, até o fim, pra fazer do último suspiro, um alívio, fim daquela agonia, a presença da morte em nós. Eu cantaria "o que é meu", citando Iggy Pop, sim, eu sairia sem destino, sem lenço e documento, inventaria um novo sentido. Eu viveria.

Antes de deixar esse mundo, queria eu, poder ter escrito algo como o fez Manuel de Barros, Dostoievski ou Guimarães Rosa. Ter tido a idéia de um Peixe Grande, chamado Daniel Wallace, registrado em filme por Tim Burton. Ter sentido em mim um pouco dos anos 70, ou melhor 1969, quando uma multidão cantou pela paz. Penso que viveria todas as épocas que sonhei, cantei, criei, recriei, todas nesse dia, no fim. Morreria como o pessoal de Recife, do Eddie, "vendo esse mundo como uma cabeça que nos sonha" e, então eu acordaria e viveria esse sonho. O que fazer agora, já que não é o fim do mundo, "ainda", e acabei de escrever esse texto que senti, e agora? O que fazer agora se todo dia é um fim de mundo?



OBS:: A crônica acima foi publicada também no site da editora paulista "Ssua editora", inaugurando o espaço "Texto no contexto". Para conferir acesse: http://www.ssuaeditora.com.br/page01.asp. Basta clicar na crônica do mês corrente, e no item mais notícias, escolha a seção de número 7.

2 comentários:

Felipe Mallmann disse...

Ta cero..mas se o FIM FOR UM COMEÇO...como uma SUPER NOVA ( GENESIS ) jogada no espaço igual ao RPG Viagem Espacial e ao mesmo tempo destroindo e criando algo novo...da destruição vem a criação.

raphael rocha disse...

DESTRUIR PARA CONSTRUIR... TUDO PODE SER...